sábado, 16 de julho de 2011

ROTAS INEXORÁVEIS

Precisamente no dia em que me dirijo para esse inapelável apelo do mar, esse mar onde durante alguns dias irei buscar todas as forças revitalizadoras para encarar mais um ano que se avizinha do mais complicado e desgastante que há memória, é lançado em São Paulo, organizado pelo poeta [e meu grande amigo] Álvaro Alves de Faria, um pequeno livro, inserido numa colecção que Álvaro vem dirigindo nas Edições RG, intitulado, "Três Poetas Portugueses" [Cristina Néry, Rita Grácio, João Rasteiro]. Enquanto aguardo o lançamento, provavelmente só lá para Outubro, do meu livro, "Tríptico da Súplica", na Editora Escrituras - São Paulo, é com alegria que integro este livro tão carinhosamente elaborado pelo Álvaro, com a ajuda do artista plástico Valdir Rocha.


A apresentação dos dois livros será dirigida pela escritora e jornalista Patrícia Cicarelli. Haverá uma leitura de poemas de Celso de Alencar, Eunice Arruda, Ronaldo Cagiano, Beth Brait, Oswaldo Rodrigues e pelo próprio Álvaro Alves de Faria.
Tal lançamento, insere-se no lançamento  do último livro do Álvaro [já publicado em Portugal], "Cartas de Abril para Júlia"
O lançamento dos dois livros ocorre hoje pelas 15h00 em São Paulo, na Avenida Nove de Julho, 3.653, no Lugar Pantemporâneo, do artista plástico, escultor, desenhista, gravador, etc, Valdir Rocha. Os que puderem aparecer serão naturalmente recebidos com bastante prazer e alegria.
.Ah, para todos: BOAS FÉRIAS!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

DESTINOS

Foto: João Rasteiro ["A decapitação do Poeta"]

DespedidaUma harpa envelhece. 
Nada se ouve ao longo dos canais e os remadores 
sonham junto às estátuas de treva. 
A tua sombra está atrás da minha sombra e dança. 
Tocas-me de tão longe, sobre a falésia, e não sei se 
foi amor. 
Certo rumor de cálices, uma súplica ao dealbar das 
ruínas, 
tudo se perdeu no solitário campo dos céus. 
Uma estrela caía. 
Esse fogo consumido queima ainda a lembrança do 
sul, a sua extrema dor anoitecida. 
Não vens jamais. 
O teu rosto é a relva mutilada dos passos em que me 
entristeço, a absoluta condenação. 
Chove quando penso que um dia as tuas rosas floriam 
no centro desta cidade. 
Não quis, à volta dos lábios, a profanação do jasmim, 
as tuas folhas de outubro. 
Ocultarei, na agonia das casas, uma pena que esvoaça, 
a nudez de quem sangra à vista das catedrais. 
O meu peito abriga as tuas sementes, e morre. 
Esta música é quase o vento. 


José Agostinho Baptista
(in “Paixão e Cinzas”)

sábado, 2 de julho de 2011

ROTAS INEXORÁVEIS

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O Núcleo de Animação Cultural da Câmara Municipal da Guarda acaba de editar o nº 29 da Revista "PRAÇA VELHA - Revista Cultural da Cidade da Guarda. O presente número da revista, com 450 páginas, possui um diversificado conjunto de matérias, passando pela cultura da região, praxes e histórias académicas, património, entrevista ao Procurador Geral da República, contos, recensões críticas, súmula das actividades culturais do Município, etc, e, também, o meu discurso de agradecimento (Pág(s) 297-300] no dia 21 de Março de 2011 [Dia Mundial da Poesia] na Guarda, na Biblioteca Eduardo Lourenço, Sala Tempo e Poesia, na sessão Solene de Entrega do "Prémio Literário Manuel António Pina" ao meu livro "A Divina Pestilência" e que tive a honra de receber, para mais, das mãos do próprio Manuel António Pina.
Segue-se parte desse discurso, que pode ser lido na íntegra no link indicado:
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"Ex.mo Sr. Presidente da Câmara Municipal da Guarda 
Poeta Manuel António Pina
Membros do júri
Poetas presentes
Minhas Senhoras e meus Senhores

Em primeiro lugar e acima de tudo, quero começar por exteriorizar a minha profunda alegria ao receber o Prémio Literário Manuel António Pina. Alegria pelo prémio em si e alegria por ter sido agraciado por esta Edilidade, pois trata-se de uma Edilidade que representa uma região onde pontuam nomes como Rui de Pina, Nuno de Montemor, Virgílio Ferreira, Eduardo Lourenço, Américo Rodrigues e Manuel António Pina, só para citar algumas figuras proeminentes da literatura e da cultura portuguesas.

Como podem imaginar, a atribuição do Prémio Literário Manuel António Pina faz com que me sinta extremamente honrado e reconhecido. Honrado não só pelo nome que o prémio ostenta e pelos seus membros do júri, mas também por se tratar de uma 1º Edição em que, tal como foi realçado pelo júri no comunicado de atribuição do prémio, a quantidade e qualidade das obras a concurso sublinham plenamente o reconhecimento literário de Manuel António Pina – hoje, sem dúvida, um dos mais importantes escritores portugueses, na sua criativa abrangência literária, que vai do teatro às crónicas ou da poesia à literatura infantil. Faço minhas as palavras de Eduardo Prado Coelho, no momento em que a Assírio & Alvim publicava a Poesia Reunida de Manuel António Pina: estamos em condições de poder afirmar que nos encontramos perante um dos grandes nomes da poesia portuguesa actual. Uma extrema delicadeza pessoal, uma discrição obsessiva, uma cultura ziguezagueante e desconcertante, mas sempre subtil e envolvente, um sentido profundo da complexidade da literatura, e também, sobretudo, da complexidade da vida, (…) uma obra maior da literatura portuguesa”.

Sim, só posso sentir-me honrado e agradecido – em muitos sentidos – pela atribuição deste prémio, para mais em sua primeira edição.

Podemos interrogar-nos – e muitos se interrogam – acerca da utilidade da poesia. Hoje, neste Dia Mundial da Poesia, e depois das mais recentes catástrofes das últimas semanas, acredito, mais do que nunca, que o papel social e político da poesia continua tão imprescindível como no momento do seu surgimento no ritual colectivo de que a comunidade, então como hoje, necessitava para sobreviver: para passar o conhecimento e reinventar o mundo.

Atrevo-me a tomar emprestado o texto de José Saramago ao receber o Nobel, para responder à permanente questionação acerca da legitimidade e/ou utilidade desta arte:”

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