(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»»
"Só existe o tempo único.
Só existe o Deus único.
Só existe a promessa única,
e da sua chama
e das margens da página todos se incendeiam.
Só existe a página única,
o resto fica,
em cinzas. Só existem
o continente único, o mar único –
entrando pelas fendas, batendo, rebentando
correndo de lado a lado".
__________ Robert Duncan
Mário Moniz Pereira (Lisboa, 11 Fevereiro de1921) professor, desportista (pedagogo, atleta, treinador) autor de canções e acima de tudo, Sportinguista. Foi praticante de andebol, basquetebol, futebol, hóquei em patins, ténis de mesa, voleibol e atletismo. E como já referi, um excelente autor de canções, especialmente, em grandes criações de fados. A que se segue, é de sua autoria, e é cantado pela grande Maria da Fé. Parabéns pelos 90 anos - "Valeu a Pena". Parabéns, por ser um dos poucos portugueses, em que a unanimidade é absoluta. Parabéns. Ah, e já só faltam dez!
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Se, depois de eu morrer...
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever
a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença
e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem setimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar,
porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão
um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais
e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos,
nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento
seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.
.............................................Alberto Caeiro
«A poesia é, finita e interminável, um diálogo precário e resistente. Ora cada um de nós é um diálogo. Por isso a poesia nos convém — ela é, esquivo e incerto, um diálogo que resiste por um dia mais, uma promessa sem garantias, pela qual nos transformamos naquilo que somos. […]»
Manuel Gusmão- Tatuagem & Palimpsesto, Assírio & Alvim
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«Em poesia, o equilíbrio acontece sempre em tensão com o desequilíbrio, devendo mesmo incorporá-lo, num jogo partilhado. E talvez a preocupação com o equilíbrio advenha de uma das particularidades da poesia, como arte: o facto de ela utilizar como matéria de criação, não uma linguagem específica, mas a linguagem comum, a mesma que utilizamos no dia-a-dia. Há toda uma tradição de reflexão poética que considera essa linguagem de partida profundamente arbitrária, insuficiente e, nessa medida, desequilibrada, atribuindo à poesia o papel de recuperar um equilíbrio primordial, tido como perdido. Esse desejo de equilíbrio pode ser observado tanto no plano da relação entre som e sentido quanto no da relação entre a palavra e o mundo.»
Rosa Maria Martelo- A Forma Informe, Assírio & Alvim